domingo, 23 de dezembro de 2012

Opinião: Sébastien Loeb, uma lenda viva

O palmarés não engana, Sébastien Loeb é o melhor piloto de ralis de todos os tempos. Para quem não liga muito a ralis, talvez esta afirmação seja tudo menos polémica. Contudo, a supremacia do francês no WRC não convenceu nem tudo, nem todos.


É um caso interessante, Loeb é hoje o piloto com o melhor palmarés da história dos ralis. Participou em dez temporadas completas no WRC, venceu nove. É o piloto com mais vitórias em provas, mais pódios e maior número de vitórias seguidas. A sua taxa de vitórias ronda os 46%, a de pódios 68% e a de provas terminadas 87%.

A sua hegemonia não se traduziu em popularidade, pelo menos naquela que reconhecemos em Henri Toivonen, Colin McRae, Carlos Sainz, Richard Burns, Petter Solberg, entre outros. O que é que falta a Sébastien Loeb para ser acarinhado pelo público?

Loeb é uma pessoa reservada e não expressa grandes emoções publicamente. Como piloto erra pouco, tem um estilo de condução não muito espectacular com trajectórias limpas, tem uma grande capacidade de gestão das suas provas e não entra em euforias. Tem ainda uma grande característica, ganha muito e muitas vezes.

São estas as características que o conduziram a nove títulos mundiais consecutivos, mas será que são estas as características que reconhecemos em nomes como McRae ou Toivonen? Certamente que não, penso que o protótipo de piloto acarinhado pelo público é mais emotivo, tem uma pilotagem exageradamente espectacular, arrisca muito, comete erros, tem grandes acidentes, vence com frequência mas não sempre. Em suma, tem características muito humanas.

Um outro argumento contra Loeb é a concorrência que tem encontrado ao longo da sua carreira. Admitindo que algumas das temporadas que enfrentou não se pautaram especialmente por competitividade no WRC, tenho no entanto de destacar alguns feitos notáveis.

Sébastien foi Campeão do Mundo derrotando nomes como: Carlos Sainz, Marcus Gronholm, Petter Solberg, Mikko Hirvonen, Sébastien Ogier ou Jari-Matti Latvala. Ainda antes, superiorizou-se a pilotos como Colin McRae, Richard Burns ou Tommi Makkinen. Levou a Citroen ao nível que hoje lhe reconhemos, gozou do seu profissionalismo e contribuiu para a competitividade dos seus carros. Aguentou o ano de transição do Xsara para o C4 com uma estrutura privada, ganhando o campeonato no sofá da sua sala, na sequência de uma lesão que o afastou das últimas provas. Beneficiou de cláusulas contratuais que relegaram os seus companheiros de equipa para segundo plano, mas nunca deu a menor hipótese da equipa encarar outro cenário. Viu a mudança tecnológica e passagem para os novos WRC 1.6 T com naturalidade, somando mais dois títulos.

Adaptou-se a todos estes cenários com sucesso, leia-se títulos. Por tudo isto, creio que Sébastien Loeb teria sido um piloto ganhador em qualquer época dos ralis, incluindo a era do Grupo B, admitindo que poderia não vir a ter o domínio que teve no período 2004-2012. Por tudo isto, não tenho dúvidas em afirmar que Loeb é uma lenda viva dos ralis, um piloto de um século.

Mas, a verdade é que uma competição desportiva como o WRC perde valor, quando um dos seus competidores tem um nível muito superior ao dos outros. Qualquer modalidade desportiva perde quando não há incerteza no resultado. Tem sido esse um dos factores que tem prejudicado o Mundial, nos últimos anos. Mas será que o WRC ganha sem Loeb? Estamos prestes a saber, ao longo da temporada de 2013, onde o francês só alinhará em eventos seleccionados.

Penso que seria interessante um regresso desta lenda, num futuro próximo. Talvez numa altura em que haja mais pilotos com capacidades e condições de o baterem regularmente, como poderão vir a estar Sebastien Ogier ou Jari-Matti Latvala. Seria um desafio à sua altura, sem dúvida. Para já, espero que continue a competir, como é expectável que o faça no WTCC. Se há pilotos que não podem estar parados, este é seguramente um deles!

2 comentários:

Vasco Amorim disse...

Penso que nao se podera dizer que o Loeb e o melhor piloto de sempre visto que os tempos mudaram assim como os carros e os adversarios... Tou me a lembrar por exemplo dos carros do grupo B aqueles monstros que o roncar dos motores estremeciam o publico ... era um campeonato MUITO mais competitivo do que o de agora ... eram perciso muito mais " maozinhas" pra segurar um Audi quattro S1 do que as que sao percisas para segurar um DS3 ... sendo assim acho que nao se pode comparar os pilotos de agora aos de esse tempo ...

outra coisa que me deixa de pe atras e que desde sempre nos ralis Loeb correu pelas cores da citroen ... grandes pilotos como Ari Vatanen, Colin Mcrae, etc ... sempre ganharam com varios carros diferentes ...

Que e um grande piloto nao duvido ... o melhor de sempre nao me parece... !!

Luis Dias disse...

A meu ver é bastante simples: o Loeb teve ao longo dos anos tudo a seu favor. A sua condução precisa/rápida, aliada a uma uma baixa taxa de erros seus, uma baixa percentagem de avarias e furos, uma alta taxa de erros dos adversários e uma falta de consistência de andamento dos pilotos Ford ao longo dos anos fez com que ano após ano levasse tudo para casa.
Loeb esteve na era "certa" do WRC, coincidiu na perfeição com o seu estilo.
Nos anos 80 e 90 as avarias e furos eram bastante mais frequentes, e isso contribuía para a inconsistência de campeões. Basta lembrar o campeonato de 1998 super disputado cujo Sainz perdeu a apenas 500m da meta do Rally RAC por avaria do Corolla, ficando o título para o Tommi.
Quando se é rápido e sem esses factores externos, então é meio caminho andado.

Depois não esquecer os anos das estratégias manhosas e gestão de andamento na abertura dos troços e outras do género.

Loeb fica para a história como o que ganhou mais títulos, mas também fica como o campeão durante os anos negros/decadência do WRC. Não que ele tenha culpa, fez o que tinha a fazer. Além disso, a Ford deu-lhe pelo menos um ou dois títulos de mão beijada com erros/acidentes inacreditáveis por parte dos seus pilotos... talvez sob a tremenda pressão do próprio factor Loeb. Mesmo quando ele tinha problemas a Ford desperdiçava pódios garantidos.

O único rival nos últimos anos tem o nome de Ogier... e esse já estava a causar bastante incómodo na equipa. Não deixa de ser curioso a retirada do Loeb na altura em que se podia finalmente prever alguma concorrência de peso. Mais uma vez, o tempo que o Loeb esteve no WRC coincide com a tal situação de condições "ideais" que falei anteriormente. Não estou a dizer que é intencional, apenas que é um facto interessante.

Mas mais do que tudo, o Loeb fica sempre associado a um campeão amorfo... não necessariamente pela falta de entusiasmo perante as câmaras, demonstrada por Solberg por exemplo, mas sim pela falta de desportivismo que marcou o Francês.

As declarações nesta entrevista sempre me ficaram atravessadas...
"I'm more of a fan of starting the recce on Wednesday morning and finishing it on Thursday," he said. "Then rally on Friday and Saturday - have the party on Saturday night and then go home on Sunday."
http://www.autosport.com/news/report.php/id/98212

...principalmente quando nos lembramos dos ralis mais antigos que tinham centenas de Kms, sendo uma árdua maratona para os pilotos, equipas e máquinas.

Um adepto de ralis gosta de um campeão que goste de ir à luta e que ganhe o nosso respeito. Não precisa de ser extrovertido, mas precisa de mostrar gosto, empenho e trabalho.
Loeb por outro lado sempre foi adepto do comodismo e isso é algo que muitos não podem aceitar quando calha em conversa o tópico do "melhor de todos os tempos".