quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Testes de equipas oficiais em Portugal (1984)

AUDI

2:30 horas do passado domingo. Entrámos no bar do Hotel do Parque em Viana do Castelo, certos de ir encontrar parte da comitiva da Audi que se deslocou até nós para efectuar testes.

A primeira cara conhecida é a de Christian Geistdorfer, que mal nos vê, refere : “Fernando, desculpa, tinhas razão. Modifiquei a minha opinião em relação à TAP. Excelente voo e excelente serviço. Tudo perfeito.” (...)

Mas a razão da nossa deslocação até ao Minho não tinha sido propriamente para discutirmos a qualidade de serviço das companhias aéreas. Desde há alguns dias que os adeptos dos ralis tinham notado uma certa movimentação nas ruas de Viana do Castelo, com alguns carros de matricula alemã e (mais importante) dois Audi Quattro, mas poucos sabiam ao certo o que se iria passar.

A grande maioria terá pensado que se tratava do inicio dos treinos dos pilotos da marca alemã, mas a razão era outra e bem diferente: os técnicos de Ingolstadt tinham escolhido os troços cronometrados do Minho para proceder a testes de suspensão, algo semelhantes ao que havia sucedido no sul de França, junto a Aix-en-Provence, antes do Rali de Monte Carlo.

Encarregado destes testes nada menos que os vencedores da prova monegasca: Walter Rohrl e Christian Geistdorfer interromperam as suas merecidas férias, depois do seu espectacular triunfo, para virem até nós na busca das melhores soluções para o Rali de Portugal. (...)

7:30 da manhã de segunda-feira. Encontro para pequeno-almoço. Para os alemães, o dia de trabalho começa cedo. Não há tempo a perder. Começamos a descobrir os efectivos em campos: vemos Hans-Peter Gossen, o responsável pelo projecto do Sport Quattro; Dago Rohrer, responsável pelo sector de testes; e Franz Braun, um dos mecânicos-chefe, com o qual vieram mais cinco mecânicos.

Tratando-se de testes de suspensão, não era de estranhar igualmente a presença de Andre Geilhausen, o responsável da Boge para a competição. Finalmente, uma jovem alemã assegurava o apoio de “comes-e-bebes”, pois o tempo é escasso e não há intervalo para almoço.

Uma hora mais tarde, tomámos contacto com os meios motorizados de que dispõe estes grupo de testes: dois Quattro – o de treinos de Blonqvist, em Monte Carlo, já com as cores da HB, e outro, utilizado por Harald Demuth no campeonato alemão – duas carrinhas de assistência, um camião de pneus e a “motorhome” para os momentos de pausa no trabalho. (...)

Depois de devidamente analisado o mapa dos troços, foi decidido começar os testes pela parte final do troço de São Lourenço da Montaria. Na Audi leva-se tudo a sério e Rohrl tem consciência da importância que esta etapa do Minho terá para as aspirações da sua equipa. Nada como começar por uma fase bastante dura, para se tirarem as devidas conclusões.


Chegámos ao final do troço, Rohrl era o único que faltava, pois tinha ido proceder a “averiguações”. Pouco depois chegou o seu veredicto: mudança para o troço de Orbacém, pois São Lourenço não apresentava as condições ideais. Na verdade, não havia todo o apoio logístico que era necessário transportar e muito em particular o camião dos pneus não tinha a mínima possibilidade de chegar a meio do troço.

Por outro lado, os derradeiros quilómetros da classificativa mostravam-se bastante perigosos, uma vez que um grande numero de vacas tinha sido deixado à solta, nunca se sabendo se elas se manteriam nas bermas ou viriam para o meio da estrada.

Opta-se então pelos primeiros 2300 metros do troço de Orbacém, que permitiam à assistência instalar-se num largo existente numa zona de cruzamento de três estradas e que, na verdade, se revelava como ideal para o pretendido.

Uma vez instalados, era altura de começar a saber coisas. Assim e em primeiro lugar, a razão da presença de dois Audi Quattro. Explicação simples: um carro está equipado com a suspensão que tem sido regularmente utilizada nas últimas provas do mundial, neste caso o carro com as cores da HB, o outro carro, que era de Demuth, serviria de “cobaia”, ou seja, seriam nele montadas as novas suspensões para depois se estabelecer uma comparação de tempos.

Depois, soubemos que Rohrl tinha cinco tipos diferentes de amortecedores e dez tipo diferentes de molas para testar, estando previsto que fossem ensaiadas no mínimo três soluções diferentes por dia. (...)

Como previsto, Rohrl começou por fazer quatro passagens com o Quattro normal para só então mudar para o Quattro que fora de Demuth: entre os dois carros, apenas uma diferença – a barra anti-rolamento. (...)

A partir desta altura, foi um sem-número de passagens, um sem-número também de paragens para mudança de molas, já que o primeiro dia foi apenas dedicado a este elemento da suspensão; o segundo seria para os amortecedores e os dois restantes para tentar chegar à solução ideal do conjunto mola-amortecedor. E não há dúvida de que pelo menos estes cinco mecânicos que estiveram presentes em Orbacém ficaram autênticos peritos na mudança de suspensões. (...)

E Walter lá ia, com a sua calma habitual, serra abaixo, para então na subida demonstrar todo o seu potencial e todo o potencial do Quattro. (...)

O Sol caíra, o frio começou a fazer-se sentir com maior intensidade. A noite avançava e o primeiro dia de testes tinha terminado.Mas isto tinha sido apenas um aperitivo: até hoje, quinta-feira, os homens da Audi não saíram mais dos troços do Minho, começando os seus testes pela manhã, só terminando com o pôr do Sol. (...)

P.S.: Se você é concorrente à nossa prova máxima e já treinou Orbacém, aconselhamos um rápido regresso a este troço. Vai ver como os primeiros 2300 metros estão tão mudados...


Fonte : Jornal "Autosport" de 9 de Fevereiro de 1984.
Autor do Texto e Fotos : Fernando Petronilho.


LANCIA

Apesar do troço do Buçaco ter sido excluído do figurino do Rali de Portugal, a hospitalidade do Hotel do Buçaco e a sua localização transformaram-no no quartel-general de Pianta, que nesta sua deslocação veio acompanhado por outro pilotos de testes da Abarth, que lhe serviu de navegador e auxiliou os dois mecânicos que tinham a seu cargo o Lancia 037, neste momento utilizado por Markku Alen, como carro de treinos.

Esta mini-equipa era reforçada por dois mecânicos e por um técnico “Brivido” da Pirelli. (...)

Depois dos testes realizados, Pianta estava satisfeito com os resultados obtidos. Durante sexta-feira (no Buçaco) e sábado de manhã (na Candosa), o carro foi submetido a um trabalho intenso que permitiu ao seu condutor formar uma opinião sobre o novo pneu da Pirelli. (...)

Assim depois de várias passagens pelas secções dos troços escolhidos para o efeito,os mecânicos da Lancia substituíram por duas vezes a caixa de velocidades. Três pessoas sem pressas mudavam uma caixa de velocidades em cerca de 25 minutos, o que demonstra a facilidade de trabalho oferecido pelo Lancia Rally, que em prova por trocar de caixa de velocidades em cerca de 15 minutos. (...)

Durante a manhã de sexta-feira Pianta rodou com uma caixa de velocidades com um “raport” curto. No entanto, para a tarde foi montada uma caixa de relação longa, que demonstrou ser mais rápido no Buçaco, cerca de um segundo por quilómetro. (...)

Depois, sábado de manhã foi a tirada a prova dos nove no troço da Candosa. Mas a decisão final só será tomada depois dos treinos que Alen está neste momento a realizar, e quando o finlandês confrontar a sua opinião com a ideia de Giorgio Pianta formou nestes dois dias em Portugal.

Foram dois dias de trabalho intenso onde para além dos “raport” foram testadas as afinações de suspensão e definidos os camber a utilizar, de acordo com as diversas medida de dos pneus. (...)

Fonte : Jornal "Autosport" de 23 de Fevereiro de 1984.
Autor do texto e foto : Rui Faria.


MITSUBISHI

A noticia não constituía novidade no assunto, mas sim no tempo. Ou seja, já se sabia que a Mitsubishi tinha previsto testar o novo Starion de tracção às quatro rodas em Portugal, só não se sabia quando. E foi já com o Rali de Portugal na estrada que o segredo nos chegou: a Mitsubishi estava a testar no Marão. Era, pois, uma oportunidade a não perder e foi só fazer os arranjos necessários – ainda que para tanto se tivesse de perder a segunda etapa do rali – para dar um “salto” até à Pousada de São Gonçalo e tentar descobrir a equipa japonesa. (...)

Assim, para os ensaios em Portugal, a Mitsubishi trouxe dois Starion diferentes do ponto de vista de preparação, como nos refere Alain Wilkinson, o actual responsável técnico pela marca, depois de já ter desempenhado idênticas funções na Ford e na Toyota.

“Como estamos ainda à procura de definição final do carro, trouxemos dois veículos preparados de forma diferente: um com o motor mais puxado em termos de binário, portanto com uma resposta mais alta em termos de rotações, e outro com um motor mais progressivo, com a potência a surgir a regimes inferiores. Os dois carros são ainda diferentes no que respeita às suspensões.”

Para além destes dois carros, estavam ainda no Marão Andrew Cowan, o responsável da equipa, Lasse Lampi, piloto encarregado dos testes, quatro mecânicos japoneses chefiados por Iwao Kimata, e dois mecânicos ingleses, para além do responsável técnico da C. Santos que, como se sabe, é o importador da marca japonesa para o nosso país.

Os ensaios tinham como motivo principal a suspenção e os pneus. (...)

Os testes decorreram já na fase final do troço do Marão, alguns quilómetros depois do célebre gancho onde se deixa a estrada florestal do Fridão para entrar na florestal do Marão, em piso de terra, numa distãncia de dois quilómetros.


A ideia fundamental dos homens da Mitsubishi era a de comparar os tempos realizados por Lampi com os obtidos pelos Lancia em prova, e bem se pode dizer que o ser objectivo não foi difícil de realizar, na medida em que a luta Mikkola-Alen terá proporcionado tempos elucidativos para Wilkinson. (...)

Mitsubishi em testes no Marão: uma tarde agradável que se passou na serra, onde a calma reinava, contrastando em absoluto com a agitação que se viveu no dia seguinte com a passagem do rali. Mal sonhavam os espectadores que demandavam pelo troço pelo lado da Pousada que nas garagens estavam em repouso duas máquinas que muito provavelmente poderão vir a animar o Rali de Portugal/Vinho do Porto do próximo ano!


Fonte : Jornal "Autosport" de 15 de Março de 1984.
Autor do texto e fotos : Fernando Petronilho.


Para além da Audi, Lancia e Mitsubishi, esta última apenas estive cá para testar, também vieram ao nosso país a Toyota e a Volkswagen para participar no Rali de Portugal/Vinho do Porto, embora não tenha feito qualquer teste pré-rali.

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