domingo, 19 de julho de 2020

O WRC a caminho do esquecimento?

Já distam mais de quatro meses desde a última prova do WRC, o Rali do México, realizado em Março. Desde então, tivemos notícias de adiamentos e de cancelamentos. Mais recentemente, conhecemos um novo calendário para o que resta de 2020. As restantes provas do campeonato serão disputadas a partir de Setembro. Mas, à parte de tudo isso, reina o silêncio.

Enquanto noutras modalidades do desporto motorizado pudemos experienciar um grande envolvimento dos pilotos em iniciativas online, em especial na F1, no WRC os protagonistas têm estado mais ausentes. É certo que, nas suas redes sociais, os pilotos vão partilhando momentos com os fãs, mas muito aquém de outros exemplos no desporto motorizado. Sem provas disputadas durante todo este período, assistimos contudo aquilo que poderá vir a ser uma boa solução para aumentar a presença mediática das equipas e dos seus projectos, com a cobertura intensa que o site DirtFish realizou aos testes da Toyota na Finlândia, no mês passado.

Abrimos aqui um parêntesis para deixar bem claro o que há muito defendemos: os testes das equipas do WRC não deveriam ser secretos, nem estas se deveriam queixar da sua própria popularidade. Criem as condições necessárias e retirem o devido retorno dos testes que, num nível inferior ao das provas, têm tudo para ser verdadeiros acontecimentos. Somos, assim, favoráveis à realização de testes conjuntos, ao estilo dos testes de pré-temporada da F1.

Mas, o que mais nos assusta relativamente a todo este panorama, é o facto de a continuação do campeonato estar apenas agendada para a partir de Setembro. Em primeiro lugar, não nos inspira muita confiança o optimismo do promotor do campeonato. Numa altura em que toda a gente já tinha entendido que Sardenha e Safari seriam cancelados ou pelo menos adiados, ainda estas provas se mantinham de pedra e cal no calendário. Sem rodeios esteve a organização do Rali de Portugal, que logo anunciou a sua impossibilidade de organizar a prova no corrente ano. Questionamos portanto: serão as restantes provas realizáveis? Está prevista a realização dos ralis da Estónia, Turquia, Alemanha, Sardenha e Japão. Relativamente à Alemanha, por exemplo, já lemos rumores acerca da possibilidade de a prova se realizar à porta fechada na base militar que acolhe o famoso troço Arena Panzerplatte. O segundo ponto das nossas dúvidas é a possibilidade de os efeitos provocados pela pandemia Covid-19 se virem a agudizar a partir do Outono, criando, consequentemente limitações que afectam invariavelmente uma competição que arrasta milhares à estradas e que pressupõe a movimentação de uma máquina com centenas de pessoas das mais diversas origens geográficas.

Pior que tudo: caso haja um cancelamento de uma ou de mais provas, daquelas que ainda estão previstas para 2020, o que será do WRC? E o que será 2021, caso as limitações actuais se mantenham? Teremos de nos virar para provas realizáveis à porta fechada, do género Monza Rally Show? Provas sem público têm viabilidade económica?

Vivemos no tempo das incertezas. Todo e qualquer plano de contingência, assentando desde logo em premissas pouco sólidas, corre o risco de falhar. Mas não conseguimos entender: com os ralis de regresso à actividade há já algumas semanas por essa Europa fora, como é que o WRC só conseguirá regressar em Setembro? E, independentemente de tudo isto, porque é que o promotor não tem um plano para reforçar a presença mediática do WRC, das suas equipas e dos seus pilotos? É assim tão difícil criar um produto apelativo que aproxime os fãs das equipas neste tempo de inactividade? Não precisam de inventar, basta copiar o que foi feito noutras modalidades.

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