segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Monte Carlo 2019: a mais bela derrota de Neuville

Facebook Thierry Neuville

Thierry Neuville enseja há muito pelo tão ambicionado título mundial. No Rali de Monte Carlo, disputado há poucas semanas, não venceu mas convenceu! O belga mostrou fibra de campeão e esteve ao nível do super especialista, Sébastien Ogier, discutindo a vitória com o gaulês à décima. O segundo lugar alcançado ao lado de Nicolas Gilsoul, à chegada ao Mónaco, vale mais que muitas das vitórias conseguidas anteriormente.


Chegou ao WRC pelas mãos da Citroën, em 2012, explodiu na M-Sport, em 2013, e capitaneou a Hyundai no seu regresso aos ralis, em 2014. Venceu logo no ano de estreia com os sul-coreanos, num Rali da Alemanha que iniciou da pior forma, ao capotar no shakedown. Em 2015 teve um ano menos conseguido mas logo em 2016, com um novo e mais competitivo carro imiscuiu-se na luta pelo pódio, contrariando o ascendente competitivo dos Volkswagen Polo, sendo apenas batido pelo super-campeão Sébastien Ogier.

Nikos Katikis (Rallypixels - At World

Em 2017 assumiu a sua mais séria candidatura ao título até então. Aproveitando o abandono da Volkswagen e a experiência que a Hyundai acumulou com a construção do primitivo i20 e do NG i20, materializada na concepção do novíssimo i20 Coupe WRC, adaptado à nova regulamentação, ascendeu a um novo patamar, vencendo em diferentes terrenos. Contudo, dois erros crassos custaram-lhe o título. Dois erros cometidos nas duas primeiras provas, um em Monte Carlo e outro na Suécia. E nem bastou a magnífica performance que, de forma geral, protagonizou ao longo do restante ano para destronar Sébastien Ogier no final da temporada.

Em 2018 o Hyundai não demonstrou a mesma superioridade que havia marcado, na maioria das provas, o ano transacto. Ainda assim, com tudo mais equilibrado, o belga mostrou-se mais assertivo e esteve na luta até à última prova, sendo novamente batido por Sébastien Ogier. Alcançou, dessa forma, o quarto título de vice-campeão mundial (2013, 2016, 2017 e 2018).

Há poucas semanas arrancou com o Monte Carlo mais uma temporada do WRC. Sébastien Ogier venceu pela sexta vez consecutiva numa prova disputada, em parte, ao redor da sua terra natal. Thierry Neuville rubricou uma exibição de luxo, ao nível das velhas raposas que ao longo dos tempos ali triunfaram, no mais mítico rali do mundo.



Mesmo sendo uma prova onde nunca foi particularmente feliz e sabendo que a regularidade é um prato forte num campeonato tão competitivo, o belga arriscou. Arriscou nas escolhas de pneus, atacou forte nas zonas mais favoráveis - leia-se, zonas mais secas e limpas - e defendeu-se das contrariedades - leia-se, do gelo, da neve, da lama, da terra, das pedras, etc. Ora, mas isso terão feito todos os pilotos, dirá qualquer leitor atento. Bem sabemos. E se Thierry Neuville também o sabe, melhor o fez. E o grande feito do belga, o mais importante que tudo: não cometeu nenhum erro comprometedor. 

O momento decisivo acabou por acontecer na sexta classificativa da prova (Valdrôme - Sigottier 2) quando, numa das primeiras curvas da especial o Hyundai fugiu de frente e Neuville ao temer um capotanço e mais um final infeliz em Monte Carlo, deixou-se seguir em frente, por uma estrada perpendicular ao troço, perdendo entre 15 a 20 segundos.



A partir daqui as diferenças entre Sébastien Ogier e Neuville passaram a ser mínimas e os troços discutidos ao segundo, revelando-se preciosos e fatais os segundos perdidos pelo belga na manhã de sexta-feira. Ainda assim, há que enaltecer a prestação de um piloto que se bateu com um dos maiores especialistas do Monte Carlo de todos os tempos, disputando o rali à décima (à partida para o último troço estavam separados por menos de meio segundo). Um verdadeiro ralisprint por entre neve, gelo e lama.

Só ao nível dos melhores. Só ao nível de um candidato a campeão do mundo!

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